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ALI BABÁ E OS QUARENTA LADRÕES
Numa distante cidade do Oriente, vivia um homem bom e
justo, chamado Ali Babá.
Ali Babá era muito pobre. Morava numa tenda, entre
um vasto deserto e um grande oásis.
Para sustentar a mulher, Samira, e os quatro filhos,
Ali Babá oferecia seus serviços às caravanas de mercadores
que passavam por ali. Estava sempre pronto para cuidar dos
camelos, lavá-los, escová-los e dar-lhes água e alimento.
Os ricos comerciantes já conheciam Ali Babá e
gostavam muito de seu serviço. Ele sempre cobrava o preço
justo pelo trabalho, porém, muitas vezes, os mercadores
davam-lhe mais, pois sabiam que ele vivia em dificuldades.
— Aqui estão dez moedas de prata para você, Ali Babá.
E obrigado por ter cuidado tão bem dos meus camelos.
— Mas, senhor, são só cinco moedas que costumo
cobrar
— respondia honestamente Ali Babá.
— Sim, eu sei, meu bom homem. Mas quero gratificá-lo.
— Obrigado, patrão, agradeço em nome dos meus
filhos.
Samira, em casa, também trabalhava muito. Além de
cuidar dos filhos e das tarefas do lar, remendava a tenda, que
já era velha, e cuidava de uma horta, plantando tudo que podia,
preocupada em economizar.
— Veja, Samira! Veja, minha mulher! Hoje os homens
da caravana foram generosos. Deram-me dez moedas!
— Graças a Alá! Agora poderemos comprar uma túnica
nova para Ben e outra para Omar. Eles têm passado frio.
— Sim, Samira, amanhã mesmo vou fazer isso. A
caravana vai embora ainda hoje, e até o mês que vem não
terei mais trabalho…
Era difícil a vida de Ali Babá! As caravanas não eram
constantes e havia épocas em que, devido às tempestades de
areia no deserto, os mercadores levavam dois ou três meses
para passar por ali.
Para que sua mulher e seus filhos não passassem
necessidades, Ali Babá procurava fazer outros trabalhos. Com
eles garantia pelo menos a compra de leite, pão, azeite e
alguma carne.
Assim, quando não havia caravanas, Ali Babá entrava
numa floresta que fazia parte do oásis, entre o deserto e a
cidade. Lá ele colhia tâmaras e damascos, colocava-os em
cestos e depois ia vendê-los no grande bazar da cidade.
“Que bom! Hoje consegui apanhar meio cesto de
frutas. Mas já é tarde. Não consigo mais enxergar. Amanhã
mando meu filho Anuar ir vendê-las na cidade e volto aqui
para pegar mais. Vou ver se encho dois cestos”, pensou Ali
Babá.
No dia seguinte, bem cedinho, lá se foi Ali Babá com
seus cestos vazios, disposto a enchê-los de tâmaras e
damascos.
Estava no alto de uma tamareira quando ouviu um
rumoroso tropel de cavalos “Muito estranho, esse barulho de
patas de cavalos”, refletiu. “Sempre vejo passarem camelos
por aqui”. O ruído, cada vez mais forte, indicava que os
cavaleiros estavam se aproximando.
Ali Babá continuava curioso. “Quem será que vem
chegando? Parecem muitos… E para onde será que vão?
Entrar no deserto a cavalo é impossível! Esses animais não
agüentariam o calor!”.
Não demorou muito, Ali Babá avistou os cavaleiros.
Eram, de fato, muitos. Do alto da tamareira, o bom homem
contou exatamente quarenta.
“Puxa! Eles parecem estar com pressa… E estão bem
carregados. Todos os cavalos levam arcas, cofres e sacos…
Devem ser mercadores da cidade. Bem, vou tratar do meu
trabalho, pois o dia passa depressa.”
Mais ou menos uma hora depois, os homens voltaram
com seus cavalos ruidosos.
Ali Babá, que arrumava seus cestos, tratou de se
esconder, com medo de que o vissem. Afinal, não conhecia
aqueles homens, nem sabia exatamente o que faziam.
“Lá vão eles. Não são mesmo homens do deserto. Estão
voltando para o lado da cidade. O mais curioso é que já
descarregaram os cavalos. Onde terá ficado toda aquela
bagagem?”
Os cavaleiros logo sumiram por entre a mata, pois os
cavalos, agora aliviados da carga, corriam muito mais.
O dia passou. Ali Babá, contente com seus cestos de
frutas, foi para casa descansar.
— Pai, consegui vender todas as tâmaras no bazar. Pena
que Ben, Omar e Hassan não foram comigo. Teríamos nos
espalhado por lá, cada um com um cesto, e vendido as frutas
mais depressa.
— Então, amanhã vão os quatro. Hoje eu trouxe muito
mais do que ontem. Vejam se conseguem vender tudo.
Enquanto forem ao bazar, irei outra vez para a floresta e
pegarei mais frutas.
— Está bem, papai.
Na manhã seguinte, lá se foi novamente Ali Babá. Que
calor fazia! Ele nem se lembrava mais dos homens a cavalo
que vira na véspera. Tanto se esquecera, que nem comentara
o fato com Samira.
Ali Babá começou logo a apanhar suas frutas. Por volta
do meio-dia, já cansado, se sentou à sombra de uma palmeira,
para comer o lanche.
De repente, ouviu ao longe o mesmo barulho da
véspera. Apurou o ouvido e teve certeza: eram cavalos que
se aproximavam. Seriam os mesmos homens do dia anterior?
Se fossem, estavam passando um pouco mais tarde.
Quando Ali Babá percebeu que o tropel estava
próximo, subiu rapidamente na palmeira e constatou: eram
os mesmos quarenta homens. Para onde iriam?
“Hoje vou atrás deles. Quero ver para onde vão. Não
devem ir muito longe daqui… Estão carregados outra vez.”
Ali Babá teve sorte. Enquanto descia da palmeira para
tomar a estrada e seguir o rastro dos cavalos, o chefe dos
cavaleiros resolveu parar, para os animais beberem água.
Quando Ali Babá chegou, os homens estavam começando a
se levantar para continuar o caminho.
“Agora posso vê-los de perto?, pensou Ali Babá. “Que
gente esquisita… São tão mal-encarados… E todos armados
com facas e cimitarras…”
— Vamos, vamos! Chega de folga! Temos de
descarregar tudo isso que roubamos hoje e voltar logo para a
cidade. Amanhã é outro dia!
— disse o chefe.
“Por Alá! Eles são ladrões!” concluiu Ali Babá. “Que
perigo! Se me descobrirem, certamente me matarão. Estão
armados até os dentes! Mas, agora que já estou aqui, vou
continuar atrás deles. Quero ver para onde vão.”
Refeitos, os cavalos puseram-se a galopar, Ali Babá
teve de correr muito, para não perdê-los de vista. Conseguiu
chegar ao lugar em que haviam parado e viu que somente o
chefe descera do cavalo.
Era uma clareira na floresta, no fundo da qual havia
uma pedreira, não muito alta.
Os trinta e nove ladrões continuavam montados,
dispostos em semicírculo, voltados de frente para a pedreira.
O chefe, em pé, segurando as rédeas do cavalo, ficou bem no
meio. Com ar solene, deu uma ordem:
— Abre-te, Sésamo!
Ali Babá não conseguia entender o que estava
acontecendo. Por que os ladrões estavam ali, num lugar
deserto, onde não havia nada e ninguém? Por que ficavam
dispostos daquela maneira? E que significado tinha aquela
frase que o chefe falara?
Ele esperou apenas alguns segundos, para obter as
respostas a todas essas perguntas. Logo depois da ordem dada
pelo chefe, uma grande rocha da pedreira se moveu, abrindo a
entrada de uma gruta. Os quarenta ladrões entraram em fila e,
atras do último, a pedreira se fechou.
“Não acredito no que estou vendo… Agora
compreendo tudo! Eles devem guardar os objetos roubados
dentro dessa gruta que se abre e se fecha. Por isso, ontem, os
cavalos voltaram descarregados. Vou ficar escondido atrás
desta árvore. Eles terão de sair daí de dentro, pois acho que
voltarão à cidade”, decidiu Ali Babá.
E esperou, esperou, esperou, até que ouviu o barulho
da pedra se movendo.
“Ai vem eles!”, agitou-se Ali Babá. “Já devem estar
de saída. Vou prestar atenção para ver como fazem para fechar
a entrada da gruta.”
Os ladrões saíram em fila. Dessa vez, o último foi o chefe.
— Bem, já estão todos prontos? Então, vamos!
E, voltando-se para a grande pedra, falou:
— Fecha-te Sésamo!
A pedra rolou direitinho, fechando a entrada do
esconderijo. Os ladrões pegaram a mesma picada e,
rapidamente, com seus cavalos a galope, desapareceram entre
as árvores da floresta.
Ali Babá esperou assentar a poeira levantada pelos
animais e saiu de trás da árvore.
“Agora, vou entrar lá. Direi as mesmas palavras do
chefe dos ladrões. Sésamo deve ser o nome dessa pedreira.
Será que ela me obedecerá, ou será que só atende às ordens
dele? Bem, vou experimentar. Vamos ver o que acontece!”
Colocando-se na mesma posição do ladrão, arriscou:
— Abre-te, Sésamo!
A grande pedra rolou, abrindo a entrada da gruta. Ali
Babá entrou imediatamente e ficou maravilhado com o tesouro
que lá havia.
“Que beleza! Quanto ouro! Quantas pedras preciosas!
Quantas moedas! E pensar que há tanta gente pobre, passando
necessidades, sem casa, sem roupa, sem comida. De quem
será que eles roubam tanta riqueza? Deve ser das caravanas.”
Ali Babá deu uma volta por dentro da gruta, que era iluminada
por tochas.
Quando já estava de saída, lembrou-se de que tinha,
preso na cintura, o saquinho de pano, onde trouxera uns
pedaços de pão para o almoço.
E se eu levasse algumas dessas moedas de ouro em
meu saquinho? Acho que os ladrões nem perceberiam. Eles
têm tanto… Mas isto seria um roubo. Eu seria um ladrão,
roubando ladrões.”
Depois, pensando na vida difícil da mulher e dos filhos,
encheu seu saquinho com pesadas moedas de ouro e foi
embora. Na saída, repetiu as palavras mágicas:
— Fecha-te, Sésamo!
Ali Babá voltou ao lugar onde estivera colhendo frutas,
pegou os cestos e foi para casa. No caminho, pensava nas
moedas. Que iria fazer com elas?
Onde poderia guardá-las? Quando nada possuía, não
tinha medo de ser roubado. Agora, de posse das moedas, já
começava a temer os assaltantes.
“Acho que vou conversar com meu irmão Ali Mansur.
Ele é rico… Saberá me dizer o que posso fazer com as
moedas…”
Ali Mansur, o único irmão de Ali Babá, era um rico
comerciante de tapetes. Sua loja era a maior e a melhor da cidade.
Mas Ali Mansur era um homem mesquinho e ambicioso. Quanto
mais tinha, mais queria. E nunca ajudava o pobre irmão, nem
seus filhos.
Ali Babá chegou em casa, jantou e disse a Samira que
ia visitar o irmão.
Ao ouvir a história da gruta que se abria, Ali Mansur
pensou que o irmão estivesse brincando. Depois, como Ali
Babá insistisse, começou a achar que ele estava com febre.
Só acreditou em tudo aquilo quando o irmão lhe mostrou o
saquinho com as moedas de ouro. Os olhos de Ali Mansur
reluziam de cobiça, avaliando o peso de cada uma.
— Ali Babá, diga-me exatamente onde é esse lugar e
o que se deve dizer para abrir e fechar a pedra. Amanhã vou
até lá!
— Não, Mansur, não vá. É perigoso. Os ladrões podem
aparecer a qualquer momento. Nunca mais ponho meus pés
naquele lugar horrível. Já estou arrependido por ter tirado
essas moedas. Dinheiro que não vem do trabalho não é
honesto.
— Deixe de ser bobo, Ali Babá. Se não quiser as
moedas, deixe-as comigo. Sei muito bem como e onde usá-las.
Ali Babá foi para casa. Naquela noite nem conseguiu
dormir, tamanha era sua preocupação.
— Que aconteceu, Ali Babá? Por que está tão nervoso?
— perguntou Samira, percebendo a apreensão do marido.
O bom homem contou tudo à mulher, inclusive a
conversa que tivera com o irmão. Samira então lhe respondeu:
— Ora, meu marido, você não seria desonesto pegando
um pouquinho daquela fortuna. Ladrão que rouba ladrão tem
cem anos de perdão…
Na manhã seguinte, bem cedo, Ali Mansur saiu de sua
rica casa, com dez mulas e vinte cestos, e tomou o caminho
da pedreira. Lá chegando, ordenou que a gruta se abrisse e
entrou.
“Que maravilha! Vou encher os vinte cestos com jóias,
ouro, pedras e moedas. Amanhã virei buscar mais!”
Como Ali Mansur estava sozinho, demorou muito para
carregar as mulas. Demorou tanto, que os ladrões chegaram e…
— Fomos descobertos! A porta de Sésamo está aberta.
Saquem as espadas!
— gritou o chefe dos ladrões.
E eles não perdoaram o ambicioso homem, que foi
morto com vários golpes.
Os ladrões descarregaram seus cavalos mas, como já
era tarde, nem retiraram os cestos dos lombos das mulas de
Ali Mansur, trancando-as dentro da pedreira.
Quando anoiteceu, a cunhada de Ali Babá foi à casa dele.
Estava muito preocupada com o marido, que saíra cedo e ainda
não voltara.
— Amanhã vou procurá-lo, Salima, não se preocupe
— disse Ali Babá, pois já sabia para onde seu irmão tinha ido.
No dia seguinte, Ali Babá nem levou seus cestos para
colher tâmaras e damascos. Foi diretamente procurar o irmão
em Sésamo, pois Mansur nunca jogaria fora uma oportunidade
para ficar mais rico.
— Abre-te Sésamo!
— ordenou Ali Babá.
Dentro da pedreira, o bom homem chorou ao encontrar
o irmão morto, todo ensangüentado. Vendo as mulas
carregadas de riquezas, Ali Babá logo percebeu o que havia
acontecido. Arrastou o corpo do irmão para fora, enterrou-o
na floresta e voltou a Sésamo para pegar as mulas e entregálas
a Salima.
Estava começando a aliviá-las dos cestos cheios de
riquezas quando se lembrou das palavras de sua mulher:
“Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão…”.
“Sou tão pobre…”, pensou. “Nem casa tenho. Meus
filhos e minha mulher não têm roupas para se agasalhar. Há
dias em que não temos o que comer… Acho que Alá me
perdoaria, se eu levasse apenas dois destes cestos que meu
irmão encheu…”
Assim pensando, Ali Babá saiu de Sésamo com dez
mulas, dezoito cestos vazios e dois cheios. À tarde, quando
os ladrões voltaram à pedreira, perceberam tudo.
— Alguém mais conhece nosso segredo, companheiros!
— disse o chefe.
— Estiveram aqui, levaram o homem morto,
as mulas e ainda pegaram algumas das nossas jóias e moedas.
Pois, a partir de hoje, fiquem de olho! Quero vingança! Logo
vamos notar se alguém ficou rico de uma hora para outra. É
muito fácil identificar os novos ricos…
Um mês depois, Ali Babá comprou uma casa na cidade,
dois belos cavalos, pôs os filhos na escola e adquiriu móveis,
roupas e utensílios novos. Em sua casa não faltava mais
comida e, uma vez por semana, ele distribuía pão e leite para
os pobres.
Um dos ladrões, encarregado de fiscalizar a vida dos
moradores daquele lado da cidade, percebeu a generosidade
de Ali Babá e perguntou a um vizinho:
— De onde veio esse homem tão bom?
— Ah, chama-se Ali Babá. Era um pobre coitado que
cuidava dos camelos das caravanas e vendia frutas no bazar.
De repente, apareceu com moedas de ouro, colares de
esmeraldas e pulseiras de rubi. Ele vendeu as jóias e comprou
a casa, os cavalos, as roupas, tudo! Ninguém sabe onde
arranjou tanta riqueza. Acho que ganhou de algum mercador,
por ser muito honesto…
O ladrão correu para seu chefe e disse:
— Achei o homem! Chama-se Ali Babá ! Agora o
senhor poderá se vingar.
No dia seguinte, o chefe dos ladrões se disfarçou de
mercador, preparou vinte mulas, cada uma carregando dois
enormes jarros de barro, e foi bater na casa de Ali Babá.
— Boa tarde, meu bom homem. Sou um mercador de
azeite. Acabei de atravessar o deserto. Será que posso
descansar um pouco em sua casa com minhas mulas?
— Sim, entre, por favor
— disse Ali Babá
— Deixe as
mulas no pátio para tomarem água.
— Obrigado. Vou descarregá-las para que descansem
até amanhã. Tenho de levar todo o azeite que está nestes
quarenta jarros até a cidade de Bagdá, que é bem longe daqui.
— Amanhã o senhor pensará nisso. Agora, venha.
Quero que tome um banho e jante com minha família, antes
de dormir.
Ali Babá pediu para Samira preparar carne com
azeitonas e salada com trigo para o visitante. Apresentou-lhe
seus quatro filhos e ficaram conversando animadamente.
Na cozinha, Samira percebeu que não tinha mais azeite
para temperar a salada.
— Anuar, venha cá!
— chamou a mulher.
— Vá comprar
azeite.
— Mas, mãe, agora é tarde. Já está tudo fechado
— Por Alá! E o que vou fazer? Com que vou temperar
a salada para o mercador?
— Ora, mãe, ele não está carregando azeite naqueles
jarros enormes? Pois é muito fácil: desça até o pátio e pegue
um pouquinho.
— Bem, não há outro jeito. É o que vou fazer.
Samira desceu até ao pátio de sua casa. As mulas já
estavam todas recolhidas ao estábulo. Os quarenta jarros
permaneciam no meio da área, iluminados por uma grande
lua cheia.
Ao chegar perto de um deles, Samira ficou estupefata.
Uma voz, vinda de dentro do jarro, perguntou:
— Já está na hora de matarmos Ali Babá e sua família?
Samira não sabia o que fazer. Se se afastasse
bruscamente, poderia levantar suspeitas. Chegou então perto
do outro jarro, esperando nova pergunta, mas nada!
Tudo ficou em silêncio. O segundo jarro estava mesmo
cheio de azeite. Então, a conclusão de Samira foi rápida: ela
sabia que os ladrões de Sésamo eram quarenta. Ora, em trinta
e nove daqueles quarenta jarros enormes havia homens
escondidos e apenas um deles continha azeite. E o visitante
que estava dentro de sua casa era, sem dúvida, o chefe dos
ladrões. Ele trouxera azeite num dos jarros porque, se alguém
lhe pedisse, ele poderia provar que era um mercador.
Samira saiu de casa na mesma hora e foi chamar os
guardas do palácio do sultão, que não ficava muito longe dali.
Depois, voltou depressa para casa, foi à cozinha e
preparou um sonífero perfumado, à base de ervas do oásis.
Em seguida, desceu novamente ao pátio e despejou um pouco
do sonífero em cada um dos trinta e nove jarros.
Quando terminou, viu que os guardas já haviam
chegado. Mandou-os entrar e ficar aguardando do lado de
fora da sala, onde Ali Babá conversava com o chefe dos
ladrões.
Esperou mais alguns minutos e, ao ter certeza de que
todos os ladrões dormiam profundamente dentro dos jarros,
entrou na sala e disse:
— Ali Babá ! Tenha cuidado! Este homem é o chefe
dos ladrões de Sésamo!
— Mas… mas
— balbuciou o marido, incrédulo.
— Sim, sou eu!
— disse o ladrão. E, tirando um punhal
da cintura acrescentou:
— Agora, vocês vão morrer!
Nesse momento, os guardas entraram na sala,
desarmaram e prenderam o homem.
Enquanto descia, já preso, o chefe dos ladrões viu todos
os seus companheiros amarrados e amontoados no chão,
dormindo que dava gosto.
Ali Babá e Samira foram ao palácio do sultão e
contaram toda a história de Sésamo, pedindo a ele que
distribuísse aquela riqueza aos pobres da cidade.
O sultão concordou com o casal, mas fez questão de
dar a Ali Babá um terço de tudo que havia dentro da pedreira.
Assim, graças à bondade de Ali Babá e à inteligência
de Samira, nunca mais houve pobres naquela cidade.
(Versão de Suely M. Brazão)
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